quarta-feira, 15 de março de 2017

TEXTO MANIFESTO
Eduardo Freitas Cardozo
                                   Repúdio a Saída de um PROFESSOR
        
               Com o direito a mim fornecido pela república federativa do Brasil nos Artigos 5º, incisos IV, VIII, IX, e 220º parágrafo 2º da constituição Federal e pelo artigo XIX da Declaração Universal dos Direitos Humanos no que se refere a liberdade de expressão, venho aqui por meio deste manifesto expor minha total indignação com a saída exponencialmente injusta e arbitraria do professor Ademar Luis Rodrigues Ribeiro do CEEP Ministro Petrônio Portela nesta quarta-feira 15/03/2017. Digo isso não só como aluno, ou admirador de seu trabalho, mas também como uma pessoa que viu sua perspectiva de conhecimento e entendimento a respeito da vida e do mundo transformadas pelo trabalho de um fantástico professor, sim professor, pois não são todos que tem a dignidade e o caráter de ter esse título, pois existem muitos pedagogos e licenciados em ensino, mas professores de verdade, desses que lutam pelos seus alunos, desses que amam seu oficio e doam seu tempo e seu dinheiro para ajudar a pôr um pouco mais de juízo na cabeça dos jovens, um rumo nesses tempos de “loucura”, esses são poucos, e o PROFESSOR Ademar é e continuará sendo um desses, independentemente da injustiça, da falta de ética e seriedade de algumas pessoas. A saída do professor Ademar não é só prejudicial para as aulas, mas também para as atividades de ciências e tecnologia realizadas nessa escola (degradada tanto estruturalmente a vários anos, como também a priori, educacionalmente, pois sendo a qualidade da infraestrutura um diferencial na aprendizagem dos alunos), pois perdemos o orientador e professor mais participante nas atividades do Orion clube de ciências, que doava seu tempo para grupos de estudos, onde aprendi coisas que a maioria dos educadores não mostram: A beleza do universo, por traz da pratica, da observação, da experiência, ele que nos mostrou como ter senso crítico, o mesmo que quando todos duvidaram da nossa voz nos encorajou a falar e mostrar que temos vez, só basta querer.
          Eu não lamento pelo professor Ademar, não, o professor é experiente, e seu talento o vingará, o que mais lamento é o meu, o seu, o nosso lado de estudante, de amante de ensino de física que por meio deste homem chamado nos quatro cantos (e até por professores, e funcionários do “ensino”, bastante éticos, diga-se de passagem) de “Ademônio”, um sonho, o sonho de ser e seguir as ciências, mas acima de tudo, o sonho de um país e um futuro melhor, independentemente de seu oficio (e livre dessas “asneiras” pesudo-pedagógicas que permeiam as escolas e dificultam e dificultaram a minha e a nossa aprendizagem).  
           Esquecem eles uma coisa, por traz de todo livro, de toda língua, há uma hermenêutica, uma interpretação, e aprendi com ele que a física é a linguagem que traduz o universo, que nos mostra a realidade por traz das coisas, que nada é o que é, que as leis devem ser seguidas, e se preciso, somente assim, modificadas. Volto agora com a história do “Ademônio” e a interpretação das palavras. Por muito me perguntei se o professor tinha raiva de quem o chamava assim, também cogitei que ele não o sábia, o que era muito improvável, mas cheguei à conclusão, que ele não se incomodava, ele sabia o real significado, demônio (Daimon) etimologicamente, do grego, significa perspicácia, inteligência, audácia, coisas que de fato ele tem, então na verdade era Ademar o perspicaz, engraçado, sim engraçado, pois mais uma vez aprendi que tudo depende do referencial, da sua hermenêutica e etimologia, do que eu quero ver.
          Concluo este manifesto como alguém que aprendeu a gostar de “aprender”, falo por mim e pelos meus amigos, lamentando principalmente pelo CEEP, que perdeu, espero que não definitivamente um de seus mais antigos e melhores professores, uma pessoa que educou gerações. Eu perco um professor, até pode ser, mas ganhei e continuarei a ter um amigo, uma fonte de inspiração, um exemplo de ética, seriedade e responsabilidade, um verdadeiro professor no sentido real da palavra, alguém que olha para aqueles que necessitam, e que ajuda aqueles que o procuram.
          Termino esse texto, que para carta sentimental imita mais que um manifesto, com um trecho do poema a flor e a náusea de Carlos Drummond de Andrade:
“...Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.

Vomitar este tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.
*(Os ferozes pedagogos do mal, os ferozes alunos do mal, *acréscimo meu).

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima...”
  

Eduardo Freitas Cardozo, 3º Ano Curso Técnico Hospedagem, 15 de Março de 2017.